terça-feira, 19 de maio de 2009

MOMENTO DE REFLEXÃO



"Pra que dizer? Pra que explicar? Teatro é para sentir e fazer refletir. Incomodar consciências."

(Geraldo Elisio)

Sobre a arte espírita
Rogério Felisbino
Sobre a arte espírita Ante esse sempre palpitante debate em torno da Arte Espírita, somos tentados a também manifestar nossa opinião, na busca de trazer cada vez mais elementos que possam dar subsídios aos nossos conceitos.

Os questionamentos trazidos pelo Clésio - sobre a dúvida em se classificar ou não como espírita o filme sobre Bezerra de Menezes - me fizeram voltar no tempo e me lembrar de outro questionamento que fiz, há muito tempo, aqui na lista, quando esse tema também era debatido.

Naquela oportunidade eu fazia referência ao livro "Paulo e Estevão", de Emmanuel. E aí? Essa obra é espírita ou não?

O livro não faz nenhuma referência ao Espiritismo. O que ele tem de Espírita?

Em princípio, nada! É um livro histórico, contando a trajetória de Saulo, depois chamado Paulo, na época do Cristianismo primitivo, sendo que o Espiritismo surgiu dezoito séculos mais tarde. Não tem reencarnação, nem mediunidade, não mostra a vida na espiritualidade, nada disso!

Mas se alguém me perguntar: é uma obra espírita? Eu direi com todas as letras: COM CERTEZA! E aí, argumentarão: sim, mas existem outras obras não espíritas que têm o mesmo teor, que abordam a vida de Paulo de Tarso. O que torna este livro de Emmanuel uma obra espírita?

Para responder a esta pergunta, penso que começamos a perceber que, para a definição do que seja ou não espírita, tem que ser levado em conta vários aspectos, que vão desde a intencionalidade, o conteúdo da obra, e - quem sabe? - até mesmo o objetivos da obra, por que não? Ou seja, o que se pretende com ela?

Por que considero o romance "Paulo e Estevão", de Emmanuel, uma obra espírita?

Porque foi psicografado? Também, mas não apenas por isso. Claro que o fator mediúnico, na feitura da obra, revelando sua origem espiritual, por si só, já é um fato importante. Mas podem existir obras psicografadas que não sejam espíritas! Ou alguém duvida disso? Não pode um espírito ainda ignorante ditar (às vezes até inconscientemente) uma obra a um autor qualquer (que é médium, às vezes intuitivo), expressando suas idéias absurdas, completamente distoantes do espiritismo? Serão obras mediúnicas, mas não serão obras espíritas. Mais importante do que a origem espiritual da obra é a intencionalidade com que ela foi escrita, independente do autor estar encarnado ou desencarnado.

"Paulo e Estevão", na minha opinião, é uma obra espírita porque ela nos apresenta a vida deste missionário de uma forma tal que nos faz refletir sobre a vida através da ótica do Espiritismo. É como se fosse uma visão "espírita" da vida de Paulo. Aliás, não só da vida do Paulo, mas de todo aquele momento histórico.

Esse paradigma espírita é diferente de uma visão simplesmente religiosa (que nos apresentaria Paulo de uma forma mítica, como um santo, um predestinado de Deus), ou da visão científica, histórica, antropológica, que nos mostraria Paulo como um fariseu fanático que, de repente, se converteu ao Cristianismo.

O livro "Paulo e Estevão" nos mostra Paulo como um espírito encarnado, como nós, com seus conflitos, suas virtudes, seus erros, seus esforços sobre-humanos para a dificílima reforma íntima.

A visão do Cristo, no deserto, a caminho de Damasco, poderia ser mostrada como um "milagre", um fato sobrenatural, misterioso, se este livro fosse escrito sob um pensamento religioso qualquer; poderia ser lançada à dúvida do leitor, se fosse escrito por inspiração puramente histórica, cientificista; mas foi apresentada de forma factível, possível e crível, com fundamento nos ensinos sobre fluídos, mediunidade, transcendência espiritual, trazidos pela Doutrina Espírita.

E por que isso aparece desta forma no livro? Porque o livro foi escrito com essa intenção. Quem o escreveu, conhecia a Doutrina Espírita e soube relatar os fatos à luz do Espiritismo.

Acontece que é muito difícil captar a intencionalidade do autor, quando somos meros expectadores da obra. Eu, enquanto receptor, que é uma postura passiva, quando assisto a uma peça de teatro ou a um filme, ouço uma música ou admiro uma obra de arte, talvez não consiga perceber a intenção do autor. A não ser que seja uma coisa muito discrepante, mas é muito difícil distinguir uma obra genuinamente espírita (produzida por um espírita com a intenção de falar de espiritismo, ainda que de forma não direta, subjetiva) de uma outra obra que não apresente estas características.

Então, creio que é fundamental que o próprio autor identifique sua obra como sendo espírita. Que assuma essa condição, ainda que ele queira atingir um público não espírita. É claro que ele não precisa ser proselitista em sua divulgação, mas também não necessariamente precisa omitir-se da condição de espírita.

Minha insistência em defender o termo "Arte Espírita", embora entenda que seja um termo de difícil definição, é para que nosso movimento possa ter em mente que a gente pode, quem sabe, construir essa "coisa" chamada "arte espírita". É como se fosse um ideal. Se nós, que somos artistas espíritas, não procurarmos defender essa arte, quem a defenderá? Quem a produzirá?

Quando os pedagogos espíritas criaram a Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, em nenhum momento se viu uma discussão sobre se existe pedagogia espírita ou não. Pode até ser que entre eles se discuta se existe essa pedagogia espírita, mas eles assumiram um papel ante a sociedade. É como se eles dissessem: nós estamos aqui, nós existimos, e vamos lutar por isso, porque acreditamos nesse ideal.

Da mesma forma, acho que nós artistas espíritas temos que defender e, acima de tudo, experimentar, e fazer a arte espírita. É um campo novo que só conseguiremos desvendar se estivermos juntos, unidos, uns auxiliando os outros, avaliando e reavaliando nossos trabalhos nesses intercâmbios tão salutares que estamos fazendo através do fórum e agora também através da Abrarte.

Rogério Felisbino
Nucleo Espírita de Artes - Florianópolis /SC

FONTE: http://www.arteespirita.com.br/index.php?option=com_content&view=article&catid=30:blog&id=111:sobre-a-arte-espirita&Itemid=93

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